Relembre: série O homem de seis milhões de dólares mostra acidente real da Nasa, saiba mais

Relembre: série O homem de seis milhões de dólares mostra acidente real da Nasa, saiba mais

19/10/2011 0 Por Surya
LeeMajor

 

 

 Quem viveu a época dos seriados da TV brasileira entre o final dos anos 1970 e início dos 1980 deve se lembrar muito bem de O Homem de Seis Milhões de Dólares, que transformou Lee Majors em astro. Ele vivia o Coronel Steve Austin, que serviu na Força Aérea Norte-Americana, e foi depois recrutado pela NASA, comandando a missão lunar Apollo 17 (se bem que no telefilme Wine, Women and War seja dito que ele voou na Apollo 19).

Steve desejava retornar ao espaço, mas os vôos ao Skylab já estavam com tripulação completa, e dessa forma ele se tornou piloto de testes chefe do programa de aeronaves experimentais. Nessa época, a NASA testava na Base Edwards na Califórnia uma série de aviões chamados em inglês de lifting body, que poderíamos traduzir como corpo de sustentação.Tais aeronaves eram levadas até grandes altitudes em um suporte sob a asa de bombardeiros Boeing B-52, e após desacoplarem eram conduzidas em vôo planado até o solo, ou voavam por seus próprios meios com motores a foguete. Sua característica principal era não possuírem asas, e sua sustentação derivava unicamente de seu formato, daí a designação usada. As únicas superfícies de controle eram pequenos lemes e flaps na traseira.
Infelizmente para Steve, uma de suas missões terminou muito mal, quando sua aeronave caiu durante o pouso, rolando várias vezes em solo. Ele ficou gravemente ferido, e enquanto o Dr. Rudy Wells lutava para mantê-lo vivo, surge Oscar Goldman, chefe do OSI, Escritório de Operações Estratégicas, oferecendo a possibilidade de transformar Austin em um ciborgue, substituindo as partes de seu corpo danificadas por próteses biônicas.
Esse é um resumo de como Steve Austin tornou-se o primeiro homem biônico do mundo. É interessante destacar que a série baseou-se no livro Cyborg, do autor especializado em aeronaves e aviação Martin Caidin (14/09/1927, 24/03/1997). O livro foi lançado em 1972, e a série começou em 1973, sendo que Caidin depois escreveu três sequências, Operation Nuke, High Cristal e Cyborg IV. Caidin teve a idéia para Cyborg ao presenciar, em 10 de maio de 1967, o acidente do piloto Bruce Peterson a bordo do lifting body Northrop M2-F2.
Este artigo trata justamente desta questão, a sequência de abertura de cada episódio, mostrando Steve Austin em vôo com seu avião, e o posterior acidente, filmagens reais do programa da NASA que foram aproveitadas pelos produtores. Peterson ficou seriamente ferido, mas conseguiu se recuperar, infelizmente perdendo a visão em um dos olhos. Ele passou a trabalhar nos bastidores desses projetos, e tornou-se executivo da Northrop pela época em que a empresa trabalhava no projeto do bombardeiro stealth (invisível), B-2, falecendo aos 72 anos em 1 de maio de 2006.
O primeiro lifting body foi o M2-F1 produzido pela NASA, e utilizado em testes de planeio, rebocado por outra aeronave, entre 1963 e 1966, provando que o conceito funcionava. Na época, a NASA já havia percebido que cápsulas espaciais como a Mercury e a Gemini, além da então futura Apollo que levaria os astronautas a Lua, tinham pouco controle durante a reentrada na atmosfera. Com uma aeronave alada, ou quase, seria possível um controle muito maior para realizar o pouso de forma mais precisa.
Tais aeronaves também testaram as tecnologias que mais tarde dariam origem aos ônibus espaciais. Assim, a Northrop foi contratada para construir o exemplar único do M2-F2, que voou entre julho de 1966 a maio de 1967, e depois do acidente de Peterson, foi reconstruído como M2-F3. Dezesseis vôos foram conduzidos por uma equipe de pilotos anteriormente, sempre sem propulsão. No dia de seu acidente, Peterson foi orientado a provocar uma oscilação no aparelho, que devido a ausência de asas poderia se tornar muito crítico de controlar. Essa oscilação aparece claramente na abertura da série, e infelizmente Peterson perdeu o controle e, distraído por um helicóptero que acompanhava a missão, desviou a aeronave quando percebeu risco de colisão. O M2-F2 dirigiu-se a uma área de pouso diversa, e tocou o solo sem que o trem de pouso estivesse na posição correta, causando o terrível desastre que a série tornou famoso. Dessa forma não foi realizado o vôo com o foguete, tipo XLR-11 Reaction Motors.
Como M2-F3, a aeronave foi utilizada entre junho de 1970 a dezembro de 1972 em 27 missões, e o motor foguete XLR-11 foi finalmente utilizado, capacitando o avião a marcas como 20.790 m de altitude, e 1.712 km/h, ou Mach 1,6 de velocidade.
Entretanto, quando os produtores buscaram imagens de arquivo para utilizar na abertura da série, o M2-F2 não estava mais disponível, e para mostrar Steve Austin a bordo de sua aeronave optaram por utilizar outro lifting body da Northrop, o HL-10. Logo no começo da abertura, é o modelo que vemos de cima, se desprendendo do B-52, enquanto conforme exposto, a cena com o avião oscilando e o desastre são tomadas reais do M2-F2.
O HL-10 voou pela primeira vez com o já mencionado Bruce Peterson, em 22 de dezembro de 1966, e foi utilizado até julho de 1970. Foram ao todo 37 vôos, onde tipícamente a aeronave era levada até 14.000 m e 720 km/h pelo B-52, e então desacoplada. Este foi o avião a atingir as melhores marcas do programa lifting body, com 27.440 m de altitude, e 1.976 km/h (Mach 1,86), de velocidade.
Durante a série, Steve Austin é convidado a retomar os vôos no episódio The Deadly Replay, e novamente foi utilizado o HL-10 para tomadas com o ator Lee Majors. Assim, o avião do Homem de Seis Milhões de Dólares na verdade são dois, o HL-10 logo na abertura, visto por cima a partir da aeronave-mãe B-52, e o M2-F2 na sequência da perda de controle e do acidente.
Quanto aos lifting bodies, deixaram lições para o programa dos Space Shuttle, ou ônibus espaciais. Algumas das propostas iniciais eram de aeronaves sem asas, mas logo se percebeu que o formato cheio de curvas não permitiria uma boa acomodação dos tanques e cargas internamente, e finalmente o ônibus tornou-se uma aeronave com fuselagem e asas em delta. Mas o shuttle tem inegavelmente aspectos dos lifting bodies, já que sua fuselagem também toma parte na sustentação aerodinâmica, e o flap em sua parte traseira é herança dos vôos do HL-10 e M2-F2.
Os russos utilizaram aeronaves no estilo lifting body no seu próprio programa de onibus espaciais, do qual o único a voar sem tripulação no espaço foi o Buran. Houve ainda o projeto do Kliper, um pequeno ônibus espacial russo que foi cancelado. Finalmente, a NASA retomou o mesmo formato aerodinâmico sem asas no programa X-38, pensado como um veículo de escape da Estação Espacial Internacional, e cancelado em 2002 devido a cortes no orçamento. Entretanto, a Força Aérea Americana tem conduzido vôos secretos com o avião espacial não tripulado X-37B, que existe em dois exemplares.
E naturalmente, existe ainda a Spaceship Two da empresa Virgin Galactic, derivada da Spaceship One que venceu o Prêmio X em 2004 como a primeira nave suborbital lançada por uma empresa privada. A Virgin acaba de inaugurar seu primeiro espaçoporto no Novo México, e espera-se que os vôos comerciais da Spaceship Two comecem logo. Vale lembrar que a primeira nave da frota se chama Enterprise!
Comprova-se então que a era dos aviões espaciais, mesmo com a lamentável aposentadoria dos ônibus espaciais da NASA, está apenas começando!

Abaixo imagens originais

 
 
 

 

 

Confira também:

Galerias!
http://www.dfrc.nasa.gov/gallery/photo/HL-10/
http://www.dfrc.nasa.gov/gallery/photo/M2-F2/

Imagem com vários aviões espaciais
http://www.space.com/12171-space-planes-winged-spaceships-evolution-infographic.html

http://www.space.com/13294-spaceport-america-virgin-galactic-dedication.html

Por:   Renato Azevedo

http://escritorcomr.blog.uol.com.br
http://www.ufo.com.br/blog/renatoazevedo