Esta é a sua morte – O Show | Um filme de dilemas morais em uma época quase sem elas

Esta é a sua morte – O Show | Um filme de dilemas morais em uma época quase sem elas

08/09/2017 0 Por Alan Uemura
Spread the love

[widget id=”yuzo_widget-4″]

Adam Rogers (Josh Duhamel) é um apresentador de TV que tem um novo e ousado programa, onde as pessoas são pagas para se matarem ao vivo. Tal iniciativa macabra gera muitos protestos mas também faz bastante sucesso, graças ao fascínio do público em acompanhar a degradação de outras pessoas.

Esta é a Sua Morte – O Show, possui um elenco de peso, além de Josh Duhamel, estão Famke Janssen, Sarah Wayne Callies, Giancarlo Esposito, Caitlin Fitzgerald, James Franco entre outros. A direção é do próprio Esposito (o Espelho de Once Upon a Time), que está no comando de um longa pela sua segunda vez.

A trama simples não mostra toda a complexidade existente neste filme, que em um primeiro momento parece mais um filme de terror para disputar com It, ou mais um longa sobre a mídia como Nerve ou O Círculo.

“Não caia na armadilha de achar que o texto ‘pessoas se matam para aparecer na TV’ é este filme.”

Bem, não é! Esta é a Sua Morte – O Show, não fez um “show” em divulgação de trailers e marketing. Manteve-se em silêncio e apresenta um trailer que mostra apenas uma parte dele, a introdução. Trailers costumam serem divididos em 3 partes: introdução, que faz uma apresentação dos personagens; em seguida uma montagem de diferentes trechos para dar um impacto e o grande final. Bem, este não é assim e por isso não estraga a sua experiência, como mostrar o Homem Aranha ou o Apocalipse e você sair do cinema com aquele ar de “não precisava ter contado antes”.

Durante o filme somos mostrados em várias subtramas: a de Adam, um apresentador que surta com a morte (está no trailer) de uma das participantes em seu reality; Mason, um pai de família como tantos outros que pós crise financeira de 2008 está em decadência e precisa de vários empregos para manter sua família; Karina, a irmã de Adam, ex dependente química e que trabalha em um hospital; Sylvia, a produtora que vem de minisséries de fantasia como Peter Pan e a toda poderosa e chefe de tudo Ilana.

Todas estas histórias juntam-se a principal, que é a do programa. Começamos com o argumento que é o tema do filme, suicídio é válido. Que dentro de um contexto, ele é o mais certo a se fazer. Mas durante o crescimento de toda a história, vendo cada drama dos personagens, percebemos que as coisas não são bem assim.

Será que tudo é o correto para se conseguir uma audiência? Quando foi que nos transformamos em pessoas frias que nada mais nos afeta?

Este é o principal a respeito de Essa é a Sua Morte – O Show! Para que possamos pensar e analisar com um nada sutil tapa na cara, que não é o tempo atual, século XXI que nos mudou. Um relógio ou o calendário não muda as pessoas. A TV não muda ninguém. Então, o que muda? Essa resposta, é apenas sua! Assista a este, que na minha opinião, é um dos melhores filmes do ano em drama. Pense, deixe-se mergulhar junto aos personagens e no final, solte o ar que estava preso e até mesmo as lágrimas e lembre-se: Setembro Amarelo, é um mês de ajudar a vida.

E que subam as cortinas, até a próxima!

Abaixo, parte com spoilers. Leia por seu próprio risco e estrague a sua experiência.

Eu avisei!!!

Minha experiência pessoal com o filme

Não podia deixar de escrever um pouco mais. Confesso que ao ir assistir a este filme junto a outros jornalistas, achei que veria um pouco mais do mesmo. Outro filme que não criamos empatia com os personagens e que quer trazer apenas impacto com cenas e algumas palavras. E que ao sair da sala de cinema, iríamos nos juntar (jornalistas), e falar sobre os próximos longas ou onde cada um iria comer.

Como é bom estar errado!

O tema para mim de Esta é a Sua Morte – O Show, não é como as pessoas morrem ou o show que é criado em cima disso. Nem mesmo sobre a reações de uma sociedade que deseja ver mais e mais sangue e brigas em Redes Sociais sobre quem está certo ou errado. Sendo que o certo, “sempre sou eu”.

Para mim, a discussão se resume a algo simples: “Se precisar de mim, me ligue.”

Uma pessoa quando precisa de ajuda, muitas vezes já te pediu quando conversou com você. E muitas vezes, ela não tem como te pedir muito mais. É o que acontece com Karina, irmã de Adam em uma cena que ela é humilhada em rede nacional pelo irmão e ele diz que liga depois. Ou mais para frente, quando ela foi demitida e está em desespero e ele diz, “me liga se precisar de algo” e “falo com você quando terminar a temporada”. Como assim?

Outro pronto, é o de Mason. Ele pede sempre com educação e expõe seus problemas para seu chefe que necessita de um plano de saúde para o seu filho. Que precisa de mais um emprego para ganhar um pouco mais. Ele não pede um aumento merecido. Não. Ele se humilha para trabalhar mais horas para receber uma mísera quantia. E o que acontece? Seu chefe dá um novo horário para ele, para que vá trabalhar em um outro local. Ótimo não? Seria, se ele não saísse às 2 horas da madrugada para entrar às 2h30, e ainda fazer um percurso que irá durar 50 minutos até o local. Portanto, sempre chegaria atrasado e seria demitido. E ele nega. E ao negar, o chefe o manda embora pois ele não “pensa em prol da empresa”. Armadilhas de muitos gerentes que fazem este tipo de coisa e deixa a pessoa se sentindo culpada.

O tom sobre como tudo isso leva a brigas familiares, a depressão e ao desespero em buscar empréstimo com agiotas e vendedores de drogas, é uma realidade em muitas famílias. Pais de família buscam sempre o melhor pelos seus filhos. Escondem deles para que não vejam os problemas que estão passando. A cada TV desligada, a desculpa que “agora temos tempo para ler um pouco mais” ou isso é um erro e passageiro. Só que os filhos enxergam e sentem. É impossível dentro de uma casa, algo tão dramático e radical não ser percebido. E Mason tem ainda a questão da idade. Uma crítica em alto e bom tom, que quanto mais idade, mais experientes somos, mas ao mesmo tempo, é percebido que as empresas realmente não querem isso. Preferem jovens sem experiência que ainda não possuem senso crítico para fazerem o trabalho, pois necessitam daquele trabalho e se calam. E para Mason, é jogada na cara, que sua idade é um fator que atrapalha. Ter idade, ter experiência, é culpa sua leitor.

Então, o que resta a ele? Resta ir para o programa. Um local onde ele trabalhou no início do filme e fez uma crítica aberta a Ilana e foi demitido, para logo em seguida, novamente, ser mandado embora de seu segundo emprego, um restaurante por ter falado a verdade na cara de Adam. E Adam que pediu a sua demissão.

Daí percebe-se que Adam, mesmo parecendo ser uma pessoa com bons ideais, é um grande sacana que não liga para ninguém.

Durante a criação do programa, é colocado uma parede de vidro. Essa parede é a “transparência” do programa. Uma maneira de alguém se matar com um tiro e não machucar ninguém da plateia. Mas na verdade, é um meio de “separar” o público do que está acontecendo. Sem essa parede, fica-se muito próximo da morte e ela iria afetar as pessoas. Mas com ela, mesmo sendo de vidro, um muro invisível é criado e a responsabilidade sobre o que é visto ali, não é de mais ninguém. Afinal de contas, é uma escolha dela e todos tem o direito de fazerem o que querem de suas vidas.

Consequências! Sim, consequências. É retornar para o início desse spoiler com “me liga se precisar”. A barreira invisível foi criada e a desculpa para mais tarde quando uma pessoa comete suicídio ou algum ato mais radical, fica sendo “poxa, ela podia ter entrado em contato”.

Lógico que nem sempre temos o poder onipresente de saber tudo. Mas quando somos presentes, temos o poder de ajudar de alguma forma.

E no final, quando Karina comete suicídio, Adam entra em desespero e chama a todos de doentes. E quando a produção vê Mason se preparando para o mesmo, também acham aquilo chocante. Por que? Porque agora são pessoas próximas e que sabemos a sua história. E quando algo acontece na nossa frente, percebemos o quanto somos mortais e que desgraças podem acontecer em nossas vidas.

Esse é o ponto deste filme para mim. Mas pode ser outro para você. Essa é a Sua Morte – O Show, terá vários pontos de vista, pois são experiência diferentes. E espero, sinceramente, que possa tirar ótimos proveitos desse filme como eu.