Crítica Livro | Shibumi

Crítica Livro | Shibumi

17/08/2017 0 Por Alan Uemura
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Sobrevivente de Hiroshima, Nicolai Hel ressurge como o amante mais habilidoso do mundo e bem pago assassino de aluguel. Hel é um gênio, um místico, um mestre em diversas línguas e culturas, e seu segredo é a determinação de atingir um raro tipo de excelência pessoal, um estado de perfeição espontânea conhecido como shibumi.

Vivendo atualmente com sua requintada amante numa isolada fortaleza nas montanhas, quando uma linda garota estranha bate à sua porta buscando ajuda e refugio, e Hel é contra sua vontade arrastado de volta para um tipo de vida que tinha tentado deixar para trás. Em pouco tempo, fica evidente que Hel está sendo caçado pelo seu mais sinistro inimigo, uma super-organização de espionagem internacional conhecida apenas como a Companhia-Mãe. O campo de batalha está pronto: de um lado, corrupção e poder impiedoso, e do outro… shibumi.

Este não é um livro novo. Seu lançamento no Brasil foi em 1984 e depois uma nova edição em 2006 pela Landscape. Shibumi não é um livro fácil de ser lido. Para muitos nascidos pós 1995, é necessária uma boa busca pelo Google ou com pessoas que são da época.

Trevanian consegue nos segurar do início ao fim de sua aventura com Hel. Em alguns momentos pode-se achar que o personagem é um James Bond. Mas em seguida isso já some da cabeça do leitor.

Hel é único! É um personagem cheio de misticismo. Um homem crescido na Segunda Guerra Mundial.

Ele não tem pátria. Nasceu Russo, passou parte de sua infância na China e se tornou homem no Japão. E agora mora na Europa.

Hel é uma mistura de culturas e simbolismos o que o torna único.

Shibumi é um livro com referências a espionagem. Possui as doses de aventura com lugares maravilhosos descritos pelo autor. É um livro ágil e cheio de reviravoltas.

Trevanian joga contra o estilo de vida americano e europeu. E mostra um lado do Japão que não existe mais e crítica a sua evolução. Mas também entende a necessidade das mudanças. E que aceitar, não é o mesmo de se entregar a essas mudanças.

Ele te faz refletir sobre a nossa existência. Quais realmente são os valores que realmente desejamos para nós. Aqueles que acabamos esquecendo em algum ponto do tempo e que agora, por mais que queiramos trazer ele de volta, torna-se quase impossível.

Shibumi não é apenas um livro de espionagem e história. Ele é sobre filosofia. O livro é uma máquina do tempo que passeia entre o passado e o futuro mostrando o crescimento do personagem e evidenciando suas escolhas que o tornaram quem é. Durante esta jornada, ainda somos apresentados a Companhia. A grande antagonista do herói.

É interessante ler e perceber o quanto o autor nos joga na cara o que é o nosso mundo através da Companhia. Mesmo para um livro escrito na época da Guerra Fria, Shibumi ainda é atual. Tira-se os personagens do passado e coloca-se os de hoje. Muda o ano e tudo continua o mesmo. As guerras continuam as mesmas e a busca de poucos, ainda é pelo seu Shibumi.

“— Shibumi,senhor?

Nicholai conhecia a palavra, mas somente quando aplicada a jardins ou arquitetura, quando queria significar uma beleza atenuada.—Em que sentido usa a palavra,  senhor?

—Ah, de maneira vaga. E acho que incorreta. Uma tentativa infeliz de descrever uma qualidade inefável. Como você sabe, Shibumi tenta definir um grande requinte oculto sob uma aparência corriqueira. É uma declaração tão correta que não precisa ser ousada, tão precisa que não precisa ser bela, tão verdadeira que não precisa ser real.
Shibumi tem mais a ver com entender do que com conhecer. Um silêncio eloqüente. Na conduta é modéstia sem humildade. Na arte,onde o espírito do shibumi 
assume a forma de sabi, significa simplicidade elegante, uma brevidade articulada. Na filosofia, onde shibumi emerge como wabi, é uma tranqüilidade espiritual não passiva; o ser sem a angústiado vir-a-ser. E, na personalidade de um homem, é… como dizer? Autoridade sem dominação? Alguma coisa assim.

A imaginação de Nicholai estava galvanizada pelo conceito de shibumi.Nenhum outro conceito ideal jamais o afetara tão profundamente.

—E como é que uma pessoa atinge este shibumi, senhor?

—Não se atinge o shibumi…
descobre-se. E só uns poucos  homens, extremamente refinados, conseguem esta proeza. Homens como o meu amigo Otake-san.

—O que quer dizer que a pessoa tem muito a aprender para chegar ao shibumi?

— Acho que não é bem assim. A pessoa tem de superar a sabedoria para chegar à simplicidade.

(…)

Embora tivessem conversado juntos até tarde, naquela última noite, sobre o que shibumi significava ou poderia significar, na essência mais profunda não estavam de acordo. Para o general, shibumi era uma espécie de submissão; para Nicholai uma espécie de poder.

Eram ambos prisioneiros de suas gerações.”